sexta-feira, 22 de abril de 2011

I Semana Indígena é realizada em Acaraú

 
(Apresentação da dança Torém, pelas alunas do Liceu - dança "Festa de um povo")
  Nos dias 18, 19 e 20 de abril, o Liceu Maria Alice Ramos Gomes, localizado no município de Acaraú, promoveu a I Semana Indígena com o tema "Cultura e Saberes Tremembé". O evento foi coordenado pela professora Raquel, da área de Sociologia, que antes de assumir o magistério trabalhou com as comunidades Tremembé de Acaraú. Além das lideranças indígenas e membros do Conselho dos Índios Tremembé de Queimadas, em Acaraú, estiveram presentes alunos do Liceu, da Escola Profissional do Estado Marta Maria Giffoni de Sousa e Escola Municipal Teresa de Jesus Silva. O evento, realizado na quadra da Escola Estadual Tomás Pompeu de Sousa Brasil, no Centro de Acaraú, contou com palestras e apresentações artísticas.
Na abertura do evento, um grupo de alunas do Liceu de Acaraú apresentou uma dança temática, representando a herança cultural indígena presente na musicalidade de alguns grupos musicais. 
Logo em seguida, foi proferida uma palestra pelo Pajé Luis Caboclo, da aldeia Varjota em Itarema. O pajé falou da herança cultural e histórica do povo Tremembé presente na população litorânea, sobretudo no baixo Acaraú. Segundo Luis Caboclo, não se pode negar a presença indígena na região, pois nem todos são aldeados, mas “tudo aqui tem sangue de índio”. O líder religioso ainda tratou com os alunos de temas como o matrimônio, a religiosidade e alguns costumes dos índios Tremembé.
No segundo dia, em 19 de abril, quando se comemorou o dia do índio, a programação foi iniciada com a dança de um grupo de alunas da escola. Em seguida foi proferida uma palestra pelo professor da UFC, Babi Fonteles, que coordena o primeiro magistério superior indígena do Ceará, em Almofala. Durante a palestra, Babi chamou a atenção para que os professores e a escola pública revejam algumas visões equivocadas e preconceituosas acerca dos povos indígenas, sobretudo, reconhecendo a etnicidade e atualidade da presença indígena no Ceará. Além disso, defendeu que é preciso deixar de ver o índio como uma figura da passado, afirmando sua contribuição para a formação da cultura brasileira. Segundo Babi, os índios contribuem e sempre irão contribuir com seus conhecimentos, tradições, rituais e práticas para a construção dessa nação multicultural.
               Em seguida o Cacique João Venâncio também falou para a plateia de alunos das escolas Liceu,  Marta Gifoni e Teresa de Jesus Silva, sobre a importância da identidade indígena Tremembé, afirmando que não pelo fato dos índios não andarem mais nus e não falarem mais a língua nativa, que deixaram de ser uma comunidade indígena.
               A programação do evento teve seu ponto alto com a apresentação da dança do Torém pelos índios Tremembé da aldeia Queimadas, de Acaraú, conduzida pelo Cacique João Venâncio. Após o convite do Cacique, professores, alunos e convidados entraram na roda e dançaram o Torém juntamente com os adultos e crianças Tremembé de Acaraú.  
                 No último dia do evento, o tema abordado foi o processo de organização social da comunidade Tremembé de Queimadas. Algumas lideranças, membros do Conselho dos Índios Tremembé de Queimadas – CITQ, fizeram o histórico do trabalho que se iniciou em 2009 com a ajuda do CRAS e da Secretaria de Trabalho e Assistência Social de Acaraú e do Instituto Carnaúba.
O professor Cleiciano Tremembé, tesoureiro do CITQ falou sobre o processo de mobilização e organização interna que resultou na fundação do referido conselho que neste no próximo mês completa dois anos de existência.
A Coordenadora Geral Maria Mirtilene, discorreu sobre os projetos de geração de trabalho e renda que as mulheres de Queimadas estão inseridas, como o PAA e o PNAE, onde através da produção de bolos e tapiocas, estão garantindo o sustento de suas famílias.
O Conselheiro Evaldo Nascimento contou a experiência do trabalho de um grupo de índios da aldeia com a adoção de práticas agroecológicas no cultivo e manejo da terra. Evaldo enfatizou que depois que o grupo de agricultores mudou sua forma de lidar com a terra e passou a adotar a Agroecologia como base da produção agrícola, estão conseguindo construir sua autonomia econômica de forma mais sustentável. Como resultados dessa mudança, o grupo vem investindo na consolidação dos sistemas agroflorestais, produzindo legumes, frutas e hortaliças e plantas medicinais. Além disso, estão reflorestando e recompondo a mata nativa através da produção de mudas.
O Assessor Técnico Ronaldo Santiago mediou a apresentação dos indígenas, ressaltando a importância da organização indígena, colocando-a como principal motivo para a superação dos problemas da aldeia, como também para a melhoria significativa das condições de vida dos Tremembé de Queimadas. 
Um dos principais objetivos da I Semana Indígena, iniciativa do Liceu de Acaraú é colaborar na superação de preconceitos, visões estereotipadas e cristalizadas sobre os índios. Além de estimular uma aproximação das comunidades indígenas com as escolas e seus agentes, contribuindo para que os índios ajudem a escrever uma outra história. 




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