O estado do Ceará é conhecido mundialmente pela beleza do seu litoral. Contudo, quilômetros de praia, que atraem milhares de turistas, podem simplesmente sumir se não forem realizadas intervenções urgentes. É o que confirma um estudo feito no ano passado, pelo Instituto de Ciências do Mar (Labomar). A pesquisa mostra que na última década, o mar vem avançado em média, 10 metros, por ano, nas praias cearenses.
Na tarde de ontem, em comemoração ao Dia do Geólogo, especialistas, cientistas e representantes do poder público se reuniram com a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento do Semiárido da Assembleia Legislativa de Fortaleza para discutir o tema.
Um dos presentes no debate foi o diretor do Labomar, Luiz Parente. Segundo ele, a aceleração da erosão nas praias do Ceará tem preocupado pesquisadores da área. Parente ressalta que os trechos mais afetados são: a praia da Barreira, localizada no município de Icapuí; Caponga em Cascavel; Icaraí, em Caucaia e Praia do Morgado, no município de Acaraú. "Se não forem realizadas intervenções, essas praias certamente vão sumir nos próximos 10 anos".
Para se ter uma ideia da ausência de ações e políticas públicas, segundo Parente, dos 573 quilômetros de litoral, em apenas 15 foram realizadas intervenções, como por exemplo, a engorda da Praia de Iracema, onde fica localizado o aterro.
Ele explica ainda que apenas 10% dessa erosão é causada por fatores naturais, outros 90% são de responsabilidade do homem. Segundo Luiz Parente, a construção de barragens, represas, açudes e a ocupação desregulada do litoral são os principais fatores do avanço do mar. "As intervenções são caras, a cada 100 metros de praia o custo varia em torno de R$1 milhão. Contudo, são necessárias", ressalta Parente.
Para o geólogo e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), João Wagner Costa, que realizou sua tese de doutorado sobre o avanço do mar no litoral cearense, a situação no Estado é grave devido os terrenos serem recentes do ponto de vista geológico.
De acordo com ele, as intervenções mais eficazes para reverter o problema são: a engorda artificial do litoral; a construção de espigões; bacias portuárias e o ordenamento da ocupação das praias. "Não existem políticas públicas concretas no Ceará para tratar do problema, a soluções existem, falta iniciativa", afirmou.
Ações
No entanto, conforme o Superintendente da Secretaria do Patrimônio da União no Ceará, Jean Saraiva, algumas medidas já foram e estão sendo realizadas, para reverter o avanço do mar. Segundo ele, na praia de Icaraí (Caucaia), numa faixa de 1.370 metros, foi introduzida a técnica de "bag wall", conhecida como "barramar". "São escadas feitas com sacos de argamassa especial. A medida que o mar vai avançando o material vai se petrificando", explica.
Ainda de acordo com ele, a Prefeitura de Icapuí também solicitou a construção de um paredão de cimento na Praia de Barreira, local onde o mar já destruiu casas e até uma escola. Outro projeto que ainda está aguardando ser aprovado é o da engorda da Beira-Mar. "Todas as intervenções solicitadas serão realizadas. Contudo, falta um maior envolvimento da comunidade científica"
KARLA CAMILA
ESPECIAL PARA CIDADE
Fonte: Diário do Nordeste
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